sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Alcobaça - 3º maravilha portuguesa

Situado na modesta cidade de aproximadamente 17 mil habitantes, o Mosteiro de Alcobaça é considerado uma das 7 maravilhas de Portugal (A outras maravilhas são: Castelo de Guimarães, Castelo de Óbidos, Mosteiro da BatalhaMosteiro dos Jerónimos, Palácio da Pena e a Torre de Belém). Localizado entre os rios Alcoa e Baça, a construção do mosteiro foi iniciada em 1179 durante o reinado de D. Afonso Henriques-O conquistador e foi conduzida pelos Monges da Ordem de Cister que já residiam em território português desde 1144. 
A ordem de Cister foi Fundada em Borgonha-França pelo abade Roberto de Champagne em conjunto com outros monges que deixaram a Ordem de Cluny para seguir as Regras de São Bento. Embora não tenha sido um dos fundadores, foi nesta ordem que viveu Bernardo de Claraval (São Bernardo) personagem de grande influencia no período das cruzadas e na criação do estado português. São Bernardo foi nomeado secretario do concílio de Troyes onde intercedeu para o reconhecimento da Ordem do Templo ou Cavaleiros Templários (ordem que D. Afonso Henriques pertencia) e intercedeu junto ao Papa para o reconhecimento da independência de Portugal.
Alcobaça - Portugal
Fachada do mosteiro de Alcobaça.
Durante o período da reconquista D. Afonso Henriques concedeu diversas áreas nos territórios conquistados para nobres e principalmente para ordens religiosas como os Cisters, os templários, a ordem de Avis e a ordem de Malta que alem de criarem centros culturais/religiosos nas regiões recebidas pelo Rei, poderiam dar apoio logístico (principalmente fornecendo alimentos aos soldados) e militar (no caso dos monges guerreiros) para a reconquista cristã....... Essa tática de povoamento foi ainda mais explorada por seu sucessor Sancho I - o povoador que fortaleceu os centros criados por seu pai e fundou cidades como Guarda (1199), Covilhã (1186), Viseu (1187).

Como chegar:

Carro - Para chegar a Alcobaça vindo de Lisboa ou Leiria o melhor acesso é pela autoestrada A8 (pegar a saída para Alcobaça/Nazaré/Valado dos Frades) e posteriormente pegar a estrada nacional N8.
Se você estiver em Fátima, é possível ir para Alcobaça pela IC9 e posteriormente pegar a N8 quem optar por esse caminho, não deixe de visitar o Mosteiro da Batalha.

Ônibus - É possível chegar a Alcobaça saindo das principais cidades portuguesas. Para obter mais informações sobre preços e horários de ônibus clique aqui.

Trem -  Como Alcobaça não possui estação de trem, os viajantes devem descer na Gare de Valado que fica a 5 km de Alcobaça. Cuidado, não sei se há transporte fácil de Valado para Alcobaça. Para mais informações sobre horários e preços dos trens em Portugal acesse aqui.
Alcobaça
arFachada do mosteiro de Alcobaça.
Arquitetonicamente falando, a maior parte do mosteiro foi construída no estilo gótico, mas algumas instalações que foram construídas no estilo Barroco (fachada, Cozinha e parte da sacristia) e manuelino (Sacristia e Sobreclaustro). Na entrada da Igreja temos as estatuas de São Bento e São Bernardo. Acima dos dois Santos temos as estatuas das quatro Virtudes Cardeais que representam a Fortaleza, Prudência, Justiça e Temperança (Quer saber a importância/significado dessas virtudes, clique aqui). No nicho central da fachada temos a imagem de nossa Senhora da Assunção.
Para melhor contar a historia e mostrar com mais detalhes o interior do mosteiro, irei dividir a visita do mosteiro nos tópicos abaixo:
A Igreja -  A monumental igreja do mosteiro construída em forma de cruz latina possui 106 metros de comprimento e 22 metros de altura, essas dimensões garantem ao templo o titulo de maior igreja portuguesa. Apesar do Tamanho, a igreja de Alcobaça segue a regra beneditina que prega a modéstia, a humildade e exige de seus monges isolamento do mundo e uma vida de serviço a Deus. Os cistercienses seguiam essa ideologia e construíam suas igrejas sem grandes ornamentos com estruturas simples e poupada. O altar-mor é limitado por nove capelas radiais no qual se destaca a capela de São Bernardo onde há o retabulo de sua morte.
Alcobaça
Interior da Igreja do Mosteiro de Alcobaça.
Capela de São Bernardo.
Alcobaça
Cruz florenciada talhada nas pedras do convento
Nas paredes da igreja é possível ver em vários lugares a cruz florenciada. Esta cruz foi o símbolo usado pelos cavaleiros de Avis e posteriormente pela Dinastia de Avis (de D. João I - 1385 à D.Henrique I - 1580). Essa referencia à ordem de Avis na Igreja da ordem de Cister provavelmente é por causa do Rei D. João I que foi grão-mestre da ordem de Avis assim como membro da ordem de Cister. Ambas as ordens seguiam as regras de São Bento. 
Nos blocos de granito usados na construção da igreja, é possível ver vários símbolos que para mim não seguiam nenhum padrão. Conversando com o pessoal que trabalha no mosteiro fiquei sabendo que há um estudo sobre o significa dos símbolos, mas ainda não há nada publicado.
Alcobaça
Entrada Manuelina da sacristia nova.
Alcobaça
Símbolos nas pedras da igreja
O transepto da igreja guarda os túmulos de D. Pedro I (Ancestral do nosso D. Pedro que aqui em Portugal tinha o titulo de Pedro IV) e D. Inês de Castro. O Infante Pedro I de Portugal (filho do Rei D. Afonso IV)  herdeiro do trono português casou-se com D. Constança Manuel (Filha de D. João de Castela). Após o casamento, o infante conheceu Inês de Castro (uma dama de companhia D. Constança) por quem se apaixonou. O relacionamento entre o Infante e a Dama ligada a Castela não foi muito bem aceita pela corte, povo e tão pouco pelo Rei D. Afonso IV mandou exilar D. Inês no castelo de Alburquerque. Durante esse período o amor do infante não se extinguiu e reza a lenda que os amantes trocavam cartas com certa frequência. 
Um ano após o exílio de Inês, e a morte de D. Constança durante o parto do futuro rei, D. Fernando I, D. Pedro I mandou sua amante retornar do exílio e passaram a viver junto. O infante Pedro I teve outros filhos com D. Inês fato que piorou a relação entre o Infante e o Rei que temia uma conspiração da família Castro para matar  D. Fernando I o legitimo herdeiro ao trono português e revindicar o trono para um dos filhos bastardos de D. Pedro I e D. Inês de Castro. Devido a esse Temor mais os boatos que o D. Pedro I havia se casado secretamente com sua amante, o Rei mandou assassinar D. Inês Castro.
Dois anos após a morta da amada, D. Pedro I se tronou o 8º Rei português, legitimou seu casamento com D. Inês de Castro, exumou seu corpo de sua amada e a corou diante da corte. Após a coroação, D. Pedro I perseguiu, matou e arrancou os corações de dois dos assassinos de seu grande amor que haviam fugido para a Espanha.O 3º assassino que foi exilado na França foi perdoado anos mais tarde. Esse episodio rendeu o codinome de o Justiceiro e o Cruel ao Rei D. Pedro I.
Alcobaça
Tumulo construído a mando de D. Pedro I para D. Inês de Castro.
Alcobaça
Túmulo de D. Pedro I em face ao túmulo de sua amada.
Em frente ao tumulo de D. Pedro I temos uma entrada para o Panteão Real. O Panteão de Alcobaça foi o segundo Panteão Real de Portugal (1º foi em Coimbra onde estão D. Afonso I e  D. Sancho I). Aqui em Alcobaça estão sepultados D. Afonso II e D. Afonso III alem de outros membros da família de Afonso II.
Alcobaça
Panteão Real do Mosteiro de Alcobaça
A visita a Igreja do mosteiro de alcobaça é gratuita, no entanto, para visitar as outras alas do mosteiro os viajantes precisaram desembolsar 6 Euros. Para mais informações, horários de visitas e desconto para grupos clique aqui. Para quem não conhece ou pretende visitar o mosteiro vou dar uma prévia do que pode ser visto no local.
Sala dos Reis - A primeira sala que visitamos ao entrar no mosteiro é a chamada Sala dos Reis. A antiga capela construída no século XVIII ganhou esse nome por expor as estatuas de todos os monarcas portugueses. No centro da Sala há uma imagem da coroação de D. Afonso Henriques pelo Papa Alexandre III e por São Bernardo. Para completar a obra, a sala é revestida pelos famosos azulejos portugueses que contam a historia da fundação do mosteiro.
Mosteiro de Alcobaça
Sala dos Reis - Inicio da visita no mosteiro de Alcobaça.
SALA DOS REIS - Mosteiro de Alcobaça
Imagem de D. Afonso Henriques sendo coroado o Rei de Portugal pelo Papa e São Bernardo.
Claustro D. Dinís - O Claustro D. Dinis ou Claustro do Silencio (era proibido conversar nesse local) foi construído entre 1308 e 1311 e apesar de ser construído por D. Dinis, o dinheiro usado na construção foi deixado de herança por D. Afonso III. Considerado um dos mais belos Claustros de Portugal, foi reformado durante o reinado de D. Manuel I (1495-1521) onde foi acrescentado ao Claustro um piso superior (Sobreclaustro).
Mosteiro de Alcobaça
Vista do Claustro D. Dinis
Mosteiro de Alcobaça
Detalhe do Claustro D. Dinís - Estrela de Davi ou Selo de Salomão
D. Dinis - o Lavrador foi um dos mais notáveis reis portugueses. Foi durante seu reinado que a produção agrícola (dai o codinome de o Lavrador), a exploração de minas e o comércio interno foram fortemente incentivados. Responsável pela fundação da Universidade de Coimbra (ou transferência), D. Dinis também foi o primeiro monarca a incentivar/patrocinar as artes e a difusão de conhecimento, foi ele que tomou a decisão de redigir todos os documentos oficiais do estado em português. Dentro deste contexto, D. Dinis transformou o mosteiro de Alcobaça em um grande centro estudos.
Foi nesta época também que os monges de Cister se ligaram aos Cavaleiros da Ordem de Cristo. Depois do Papa decretar a extinção dos cavaleiros Templários, D. Dinís obteve a autorização papal para criar uma nova ordem militar em Portugal (Ordem de Cristo) e transferir todos os privilégios e posses dos cavaleiros do Templo para a nova ordem militar. Cabia aos abades do Mosteiro de Alcobaça inspecionar a Ordem de Cristo e receber o juramento dos Mestres da Ordem. 
Mosteiro de Alcobaça
Cruz da Ordem de Cristo decorando o Claustro D. Dinís.
Mosteiro de Alcobaça
Inscrição na parede do Claustro D. Dinis.
Cozinha do Mosteiro - Localizada entre o Refeitório e a Sala dos Monges, a cozinha do mosteiro foi reconstruída no século XVII e impressiona pela dimensão de suas mesas em pedra e principalmente da chaminé revestida de azulejos no centro da cozinha. 
Mosteiro de Alcobaça
Chaminé da Cozinha do Mosteiro.
Os monges de Cister eram conhecidos por seus conhecimentos em Hidráulica. Esse conhecimento fica evidente no mosteiro de Alcobaça onde os monges desviaram o córrego Levada através de galerias subterrâneas para prover água fresca e corrente para o interior do mosteiro.
Mosteiro de Alcobaça
Tanque de água corrente da cozinha do mosteiro.
Todo Claustro de mosteiro possui uma fonte na entrada do refeitório onde normalmente os monges se lavavam antes das refeições. O mosteiro de Alcobaça não foge a regra e também possuí uma fonte que é abastecida pelas águas do córrego Levada. Aqui também era o local onde os monges realizavam a tonsura (tosa do cabelo).
Mosteiro de Alcobaça
Lavado do mosteiro de Alcobaça
Mosteiro de alcobaça
Detalhe do Lavabo do Claustro D. Dinis.
Refeitório - O impressionante refeitório encanta os visitantes devido a suas dimensões e complexidade da arquitetura e por suas três naves abobadadas. Destaque para o Púlpito do Leitor acessado por uma pequena escada situada a oeste da sala(lado esquerdo da foto), onde os monges realizavam diariamente da leitura sacra durante as refeições.
Mosteiro de Alcobaça
Refeitório do mosteiro de Alcobaça
Dormitório - Localizado no andar superior do Claustro D. Dinis, o dormitório do mosteiro possui 1300 mts² e ainda guarda suas características medievais.  O local possuía um acesso ao transepto da igreja e a cozinha do mosteiro através de uma escada caracol. 
Mosteiro de Alcobaça
Dormitório do mosteiro de Alcobaça
Mosteiro de Alcobaça
Detalhe de uma das colunas próxima ao dormitório do mosteiro.
O dormitório do mosteiro também dá acesso ao terraço do Claustro D. Dinis. Nesta parte do claustro construído no estilo Manuelino é possível ver o antigo "relógio de sol" do mosteiro e algumas pedras trabalhadas pelos monges.
Mosteiro de Alcobaça
Relógio de sol do Mosteiro de Alcobaça
Mosteiro de Alcobaça
Detalhes da colunas do claustro D. Dinis.

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